Hoje, no Dia Mundial de Combate ao Bullying divulgamos uma das histórias que integra um projeto que dois jovens decidiram levar a cabo:

O Projeto NÃO ME CALO

Esta é a história do João.

Para o João, a palavra gay nunca foi uma ofensa. Habituou-se a ouvi-la desde tenra idade, aquela em que ainda não é suposto ter-se contacto com a maldade das pessoas. Encarava esta palavra pacificamente porque a sua mãe o educou bem. Contudo, os colegas e conterrâneos do João tentavam rebaixá-lo repetidamente com injúrias como paneleiro, bicha, MARICAS ou mariconço.

Não foram raros os casos de assédio verbal, de empurrões nos intervalos e de material escolar roubado ou danificado. Também não foram raras as vezes em que o João chegava a casa e, por vergonha ou receio de represálias, se calava e fingia que estava tudo bem.

Mais grave ainda, aquele ambiente de opressão e ódio parecia ser completamente aceite por alguns professores e funcionários da sua escola, no Sardoal. Virava-se a cara e fechava-se um olho “porque era filho deste, filho daquela”. Perpetuava-se, assim, a desculpabilização e normalização daquele tipo de comportamentos ofensivos. Atualmente, muitos desses professores e funcionários ainda trabalham na escola antiga do João, mas ele tem esperança de que ela agora seja habitada por uma geração de alunos muito diferente daquela com a qual ele se cruzou na época.

A exposição a este tipo de ódio e maldade nos seus anos formativos mais importantes explica muitas das complicações que o João transportou para a vida adulta. Ele era um jovem altamente ansioso e dependente das expetativas dos outros; era acanhado, envergonhado e calado. Era-o porque o ambiente a que esteve exposto o ensinou a ser desconfiado, a procurar a maldade em cada gesto.

Hoje, o João conseguiu ver-se livre desses complexos e dessas companhias. Deixou florescer uma pessoa que ele acredita que sempre foi: aberta, dinâmica, interessada, (demasiado) faladora e que aprende, um pouco todos os dias, a ver a bondade antes da maldade.

Durante muito tempo, o João aceitou a negatividade que vinha daquelas ofensas. A superação desse ódio, que ele acredita ser fruto da ignorância típica de quem não teve uma boa educação, vem com o ignorar ou dar a cara por isso. Quando se aceita a ofensa com um sorriso e só se devolve educação e postura desarma-se o agressor: E DAÍ? Vem daí.